sexta-feira, 5 de setembro de 2014

What about?


Imagina que estou segurando uma pistola contra a sua cabeça. Você ajoelhado na sua própria casa, sei lá, na cozinha, chorando, cheio de ranho na cara. Que nem criança mesmo. "Não me mata por favor", uma das coisas imbecis que diz no desespero, como se alguém que invadisse sua casa no meio da noite e apontasse uma arma pra sua cabeça fosse desistir por uma súplica imbecil dessas.

Imagina mesmo, veja você mesmo numa situação que muitos veriam falta de honra ou dignidade. Olha que engraçado: Temos tanto medo da morte que como mecanismo de defesa achamos que honroso ou digno é quem morre sem medo. Ninguém morre sem medo se não for uma morte repentina. E não há nada mais honroso ou digno do que suplicar pela sua vida quando alguém aponta uma arma pra sua cabeça. Não tem nada mais honroso ou digno do que dizer pra pessoa que vai te matar que você ama sua vida.



Veja: Temos tanto medo da morte que não conseguimos admitir que o nosso maior amor é pela nossa própria vida. Negamos isso pra fingir que não sentimos medo da morte.

Outra coisa engraçada que sempre acontece quando aponto a arma pra cabeça de alguém são os apelos mentirosos pra que eu desista de apontar o gatilho: "Eu tenho filhos". Esses, que você nunca deu atenção? Que você considera apenas como mais uma despesa no seu holerite? "Eu tenho muito pra viver ainda" Viver o quê? Esse lixo que tá vivendo, que na adolescência prometeu que nunca viveria assim? Para de falar merda. Dá até vontade de apertar.

Se imaginou na situação, dizendo as mesmas bostas? Tenta, talvez doa no seu ego se imaginar em posição tão humilhante, parecendo um bebê que cagou na calça, mas com uma .38 na sua testa você não iria ficar diferente. Nem tenta negar.

O engraçado é invadir a casa. As pessoas se sentem tão seguras com duas viradas de chave na porta...cômico mesmo. Os muros são a parte mais fácil. De vez em quando tem cachorro, mas eles viram seus melhores amigos quando você aprende a sempre levar 200g de presunto quando for. E as portas? As fechaduras funcionam de forma besta. Os relevos da chave ativam um de cada vez uma espécie de combinação. Com uma boa audição e um grampo você acha a mesma combinação em 5 minutos.

Bom, continuando. Você tá levando sua vida com a barriga, já grande de tanto engolir sapo. Parece até aqueles caras que contratam mulheres pra bater neles porque apanharam do pai e nunca tiveram atenção da mãe. Tá numa merda de trabalho porque achou mesmo que o vestibular era sua consagração, e depois era só seguir o fluxo. Não dá pra contar o número de imbecis que acham que entrar na faculdade é o significado do sucesso.

Então eu vou lá e aponto uma arma pra sua cabeça. Confesso que no início eu me sentia um ser superior. Com uma arma na mão você se sente um Deus. Sabe o que é uma pessoa implorando algo pra você? Embora eu já tenha conseguido isso sem armas, elas facilitam bastante o processo. Mas depois se tornou um costume, algo que faço por necessidade, por "justiça divina", digamos, hehe.

Voltemos ao início: Você ajoelhado, cheio de ranho na cara, com uma expressão facial ridícula e deprimente, implorando pela vida. Você não sabe a vontade que dá de dar uma joelhada no nariz do infeliz de tão deprimente que é a cena. O que me impede é que sei quais serão os resultados disso.

Note que eu não disse uma palavra: Fiz um barulho na cozinha e o desgraçado veio ver o que era, como se ele fosse algum tipo de super-herói preparado pra essas situações onde pessoas armadas invadem sua casa, e ele está lá, implorando pela vida.

E eu digo pra ele imaginar. "Imagina que eu estou com uma arma apontada pra sua cabeça". E não digo mais nada. O desespero estranhamente cessa depois de alguns segundos. Não digo mais nada. Quando ele para, e olha pra minha cara, como se tivesse percebido que não adiantava mais essa manobra emocional ridícula, ele aceita a morte.

As pessoas mentem por instinto. Ele estava mentindo o choro, mentindo o medo. Mas elas estão tão mergulhadas nessa mentira em que realmente temem perder a vida (que já estavam perdendo) que acham que é verdade. É pura loucura. E então o medo acabou.

Acabou. Ele está lá, tranquilo, esperando que eu aperte o gatilho e suje a porra da cozinha inteira com a merda que tem na cabeça dele. Então eu guardo a arma e vou embora.

Todos, sem exceção, ficam lá, ajoelhados, até eu fechar a porta.

Sabe, as pessoas têm duas vidas: A segunda começa quando você percebe que só tem uma. E então elas vivem.

Falo porque minha primeira vítima fui eu.

Texto de :Lucas mombaque.

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